Mineiro, natural de Belo Horizonte, descendente de família que foi proprietária da Mina da Passagem em Mariana, Marco Aurélio R. Guimarães, é engenheiro civil, eletrotécnico e artista plástico. Sua iluminada trajetória abrange múltiplas atividades: Guimarães cria peças artísticas em madeira, mármore, bronze, pedra sabão, marfim, entre outros materiais.
Desde os tempos de juventude, com parcos recursos elaborava ornamentos e objetos diferenciados para presentear, atividade que ainda desenvolve, a fim de agraciar parentes com mimos repletos de originalidade.
Ao aposentar como Engenheiro Civil, o artista dedicou-se às esculturas em bronze e mármore, além de executar trabalhos de entalhe em madeira. Dotado de imensa criatividade e possuidor de habilidades ímpares, cursou também ourivesaria e faz joias em prata e ouro, utilizando estes materiais em outras obras.
Frequentou o Atelier Arte Minas, em Belo Horizonte, comandado pela professora Léa Diegues e pelo professor Israel Kislansky. Posteriormente, partiu para São Paulo, onde cursou “Modelagem em Plastilina” e “Escultura em Mármore”, nos estúdios de escultura do professor Cícero D’Ávila, com o qual continua seus estudos.
Eclético, Marco Aurélio R. Guimarães tem artigos publicados em inglês, na revista “Wood News”, nos quais descreve as técnicas por ele utilizadas. A Revista “Ver Art” também contém artigos do artista-escritor. Na Casa Fiat de Cultura, em 2017, aconteceu sua exposição “Prazer e Morte”. Foi agraciado com o prêmio máximo de “Medalha de Ouro” e Distinções nos melhores Salões de Arte do País, nas sete competições em que concorreu. Motivado, deu cursos de escultura gratuitos para vários grupos de alunos.
Seu extraordinário trabalho possui um aprimoramento contínuo e suas obras de grande porte “Proximus” e “Luxúria”, esculpidas em blocos únicos de mármore de Carrara de cinco toneladas, foram iniciadas na Itália e depois transferidas para o atelier em São Paulo, onde suas lavraturas foram finalizadas.
Marco Aurélio não se considera um artista, mas, sim, um amador, por não ter se profissionalizado em artes numa universidade, mas revela que, quanto ao aspecto sentimental, ama fazer esses trabalhos artísticos efetivados por prazer. Portanto, ao se aposentar, não conseguiu ficar parado, começou a esculpir ludicamente e gostou muito.
O mestre das esculturas, que reside em Belo Horizonte, mas no momento devido ao Covide-19, passa uma temporada em sua fazenda dentro da grande BH, onde está há onze meses ininterruptamente sem sair, com esposa e familiares, salientou: “Meu ateliê está anexado à minha residência, em área rural. É o meu paraíso particular. Não tenho vizinhos, visto que o ferramental produz muito barulho e poeira ao trabalhar com mármore e madeira. Impossível fazer isso numa cidade. Então, eu posso fazer tudo que eu quiser nesse meu espaço interior, onde eu viajo para dentro de mim mesmo”.
“Cada um de nós possui um tipo de motivação para ter inspiração. Para alguns é o amor, ou o ódio, ou a política, ou a religião, ou o dinheiro e o tempo, entre outros. No meu caso é a força constante de executar algo, pois não desisto de nada, considerando que eu fracasso muitas vezes, mas como uma árvore, morro em pé, lutando sempre, embora muitas vezes eu perca a batalha. Eu acho até que o fracasso é um componente do êxito, porque este é feito de uma série de maus acontecimentos e essa experiência prévia pode conduzir ao sucesso. A distância entre ambos, na minha opinião, é uma linha tênue, que chamo de persistência”.
“Ao me formar na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora – EEUFJF, aprendi a executar trabalhos com os encarregados, até chegar ao nível deles. Porém, os mesmos ficavam lá embaixo e eu continuava, porque tinha um cabedal anterior de conhecimento teórico. Mas não recomendo o autodidatismo, pois considero que o ensinamento através do estudo, do mestre e dos livros serem muito mais eficientes, apesar da grande importância da prática. A pessoa que fica pelejando sozinha pode chegar na ponta de um galho, mas nunca alcança o cume da árvore”.
“Os processos para executar a lavratura em pedra, que é a minha parte principal da escultura, têm algumas características especiais, porque é o único segmento das artes em que se trabalha exclusivamente por remoção do material. Se você errar, perde a peça. Não há como reparar equívocos. Os trabalhos de talha direta, que são esses em que a pessoa pega o bloco de pedra, de mármore ou de madeira, e começa a entalhar pela memória, nunca saem com finalizações exatas, são figuras duras. O próprio Michelangelo fez tentativas e, embora ele seja um gênio maravilhoso, abandonou-as no meio do caminho”.
“É preciso ter um planejamento muito bem feito quanto à escultura em pedra, visto ser necessário muita técnica e algum talento, também. Para tal concepção, começo a fazer um pequeno esboço, um pequeno protótipo daquilo que eu pretendo fazer, sem os detalhes de mão, de pés, de olhar e outros. Essa pequena escultura chama-se “bozzetto”, que é um nome técnico italiano, que significa protótipo”.
“Partindo desse princípio, você vai descobrir algumas necessidades de modificar uma posição. Dessa forma, faço uma modelagem em plastilina, uma argila artificial perene, sem água, feita com óleo e que não evapora. Elaboro uma peça de uns cinquenta centímetros de altura, com todos os detalhes que eu pretendo colocar depois na figura mais definitiva, que será numa outra escala, em mármore ou em madeira. Essa peça modelo intermediária me proporcionará todas as diretrizes para que eu possa transferir para uma escala maior”.
“Existe um processo gráfico para fazer essa atividade, instrumentos que facilitam e compassos especiais, em que de lado abre e a outra ponta mede de três a cinco vezes mais. Então eu meço um tamanho e do outro lado o compasso direciona a estatura que eu preciso. Dessa peça de plastilina, faço uma forma de silicone, que preencho com gesso, reproduzindo exatamente aquilo que eu havia idealizado. A partir das informações visuais desta peça de tamanho intermediário posso então fazer todo o trabalho definitivo em escala maior”, finalizou Marco Aurélio R. Guimarães.
Por Luiza Miranda – Escritora e colunista.
Matéria publicada em 10 de fevereiro de 2021, no Blog Etiquetagem: https://bit.ly/3y998Yw
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